ENTENDA TODA A LINHA DO TEMPO DA TRETA ENTRE KENDRICK LAMAR E DRAKE

2011-2012: a amizade

Entre 2011 e 2012, Kendrick Lamar e Drake começaram suas trajetórias como aliados. Kendrick participou da faixa "Buried Alive Interlude" no álbum Take Care (2011), de Drake, e no ano seguinte foi convidado para abrir a Club Paradise Tour, turnê principal do Drake. E em 2012, os dois colaboraram novamente na música "Poetic Justice", presente no álbum Good Kid, M.A.A.D City, de Kendrick Lamar.

2013-2018: os abalos de Control


O ponto de ruptura na relação veio em 2013, com a icônica participação de Kendrick na música "Control", de Big Sean. A música sacudiu a cena do hip-hop nos Estados Unidos. Na faixa, Kendrick nomeou e desafiou diretamente vários rappers, incluindo Drake, e se autoproclamou o Rei de Nova York e King of the Coast. O verso ficou marcado por linhas como:

"I'm usually homeboys with the same niggas I'm rhymin' with / But this is hip-hop and them ns should know what time it is."

"Geralmente eu sou parceiro dos mesmos manos com quem eu rimo / Mas isso é o hip-hop, e esses manos deviam saber que horas são."

A repercussão foi imediata, e Drake respondeu de forma contida em entrevista à Billboard, afirmando que aquilo não o preocupava e que soava apenas como uma tentativa de chamar atenção:

“It just sounded like an ambitious thought… If that’s what he wants to do, it’s up to him.”

"Parecia só uma ideia ambiciosa... Se é isso que ele quer fazer, aí é com ele."

Entre 2013 e 2015, embora evitassem confrontos diretos, ambos lançaram músicas com versos que fãs interpretaram como provocações veladas. Drake lançou "The Language" (2013), com a linha:

"I don't know why they been lying, but your sht is not that inspiring."

"Não sei por que eles estão mentindo, mas suas mentiras não são tão inspiradoras."

Esse verso foi entendido como alfinetada a Kendrick, que havia acabado de provocar com "Control". Na sequência, em "0 to 100 / The Catch Up", Drake mandou um verso que pode ser percebida como resposta a rappers que se colocaram como rivais e acabaram ofuscados:

"I see you faded off in the distance / I'm still here, you just disappeared."

"Eu vejo você sumir na distância / Eu ainda estou aqui, você simplesmente desapareceu."

Do outro lado, Kendrick também deixou recados em faixas e participações. Em "King Kunta" (2015), ele criticou o uso de ghostwriters no rap:

"But a rapper with a ghostwriter? / What the fuck happened?"

"Mas um rapper com um ghostwriter? / Que p*rra aconteceu?"

Na época, os rumores de que Drake utilizava compositores fantasmas já circulavam, ganhando força pouco depois na treta entre Drake e Meek Mill. Kendrick ainda soltou uma possível provocação em "Deep Water", do álbum Compton, de Dr. Dre, ao afirmar:

"Motherfers know I started from the bottom."

"Os filhos da p*ta sabem que eu vim de baixo."

Esse verso foi uma clara alusão ao hit "Started from the Bottom" de Drake, reforçando sua narrativa de autenticidade e insinuando que o canadense apenas canta sobre dificuldades que não viveu.


Em 2017, Kendrick lançou "The Heart Part 4" e disparou o que muitos enxergaram isso como recado para o cenário do rap em geral, incluindo Drake:

"Y'all got til April the 7th to get your sh*t together

"Vocês tem até 7 de abril para se recompor"


Em 2018, Drake se envolveu em uma treta pesada com Pusha T, na qual foi exposto por ter um filho secreto. Embora Kendrick não tenha participado diretamente, ele era visto como simpatizante do lado oposto, especialmente pelas suas relações com a TDE e por colaborações na coletânea Black Panther. Além disso, Kendrick mantinha laços com artistas críticos a Drake, o que ajudou a reforçar a narrativa de rivalidade silenciosa.

2023-2025: o ápice

O clima explodiu de vez entre 2023 e 2025. Em outubro de 2023, Drake e J. Cole lançaram a música "First Person Shooter", no álbum For All The Dogs, de Drake. Na faixa, J. Cole soltou:

"Love when they argue the hardest MC / Is it K-Dot? Is it Aubrey? Or me? / We the big three like we started a league."

"Adoro quando eles discutem quem é o melhor MC / É o K-Dot? (Kendrick) É o Aubrey (Drake) ? Ou sou eu? / Nós somos os três maiores como se tivéssemos criado uma liga."

O verso colocava Kendrick no mesmo patamar de Drake e Cole, algo que Kendrick, que se considera o top 1, não aceitou. A resposta veio em março de 2024, quando Kendrick lançou um verso agressivo em "Like That", música de Future, Metro Boomin e Kendrick. Na canção, ele manda:

"Motherf** the big three, nig*a, it’s just big me."

"F*da-se os três grandes, mano, é apenas eu grande"

O ataque provocou uma reação imediata, inclusive de J. Cole, que se sentiu pressionado e respondeu com a música "7 Minute Drill", lançada em 5 de abril de 2024. No entanto, dias depois, Cole se arrependeu, chorou no palco do Dreamville Festival. Emocionado, pediu desculpas e removeu a faixa das plataformas — um movimento raro no rap, declarando publicamente no show:

"Sinceramente, eu odiei o que fiz com aquela música. Nunca quis entrar nesse tipo de energia. Kendrick é um dos melhores artistas que já existiram, e eu tirei aquela música do ar porque essa não é minha vibe."



Drake permaneceu inicialmente em silêncio, mas respondeu nos bastidores e com indiretas. No dia 13 de abril de 2024, lançou "Push Ups", onde zombou da estatura de Kendrick, de sua masculinidade e de sua relação com Taylor Swift. Seis dias depois, lançou "Taylor Made Freestyle", utilizando inteligência artificial para recriar as vozes de Tupac Shakur e Snoop Dogg. A faixa insinua que Kendrick estaria tentando se aproximar de Taylor Swift para ganhar relevância pop. A música foi alvo de críticas e acabou removida.



Kendrick devolveu na mesma moeda. Em 30 de abril de 2024, lançou "Euphoria", uma diss pesada que atacava as habilidades de rap de Drake, sua aparência, identidade racial e paternidade. A partir daí, a rivalidade tomou proporções históricas. No dia 3 de maio, Kendrick lançou "6:16 in LA", sugerindo ter informantes na equipe de Drake e questionando sua autenticidade, enquanto Drake contra-atacou com "Family Matters", acusando Kendrick de violência doméstica, traição e insinuando que um de seus filhos seria de Dave Free, ex-presidente da TDE.

No dia seguinte, 4 de maio de 2024, Kendrick subiu ainda mais o tom ao lançar duas faixas. A primeira, "Meet The Grahams", diss montada como se falasse diretamente para os familiares de Drake, atacando sua mãe, pai e supostos filhos. Na letra, Kendrick acusa Drake de ser pai ausente, de assinar criminosos sexuais para sua gravadora e de ser um predador sexual. No mesmo dia, veio "Not Like Us", faixa que virou sucesso viral e atingiu recordes, onde Kendrick insinua que Drake seria pedófilo e o acusa de explorar artistas negros para enriquecer. Com o título, Kendrick afirma que Drake não faz parte da comunidade real do hip hop e o acusa de se infiltrar na cultura preta para lucrar.


Em 5 de maio de 2024, Drake lançou sua resposta com "The Heart Part 6" — título que faz referência à série de faixas que Kendrick costuma lançar antes de seus álbuns. Na música, Drake tenta se defender das acusações e diz que informações falsas foram plantadas para manipular Kendrick.

A batalha reacendeu debates históricos no rap sobre autenticidade, uso de ghostwriters, masculinidade e legado. Muitos enxergaram essa rivalidade como um ponto de inflexão na cultura hip hop, comparável às clássicas disputas entre Tupac e Biggie ou Nas e Jay-Z.

O saldo final foi de Kendrick consolidado como um dos maiores MCs de todos os tempos. No Grammy 2025, ele levou cinco estatuetas — incluindo Gravação do Ano e Canção do Ano com "Not Like Us" — enquanto Drake, apesar de manter seu status como fenômeno global, viu sua credibilidade no rap hardcore sofrer um abalo significativo.